Jean Poupart, em seu artigo "A entrevista de tipo qualitativo: considerações epistemológicas, teóricas e metodológicas", nos reporta duas posições acerca do uso de entrevistas em pesquisas sociais.
De um lado, estaria Vivien M. Palmer que, no que seria considerado um dos primeiros manuais de metodologia ligados à Escola de Chicago, Field Studies in Sociology, defendia que as ciências sociais tinham a vantagem, em relação às ciências naturais, a compreensão da realidade social a partir da interrogação a seus participantes, ou seja, aos atores sociais.
De outro lado, Pierre Bourdieu, Jean-Claude Chamboredon e Jean-Claude Passeron, em Le métier de sociologue, diriam o oposto: um dos grandes problemas da ciência do homem é justamente ter como objeto algo que fala, isto é, de ter de lidar com um objeto que, falando, retrata não somente a realidade, mas sua interpretação sobre ela.
Ao trazer essas duas perspectivas, Poupart nos introduz à ambiguidade relacionada ao uso de entrevistas em pesquisas. Ora entendida como uma porta de acesso à realidade social, ora vista como um meio capaz de gerar uma ilusória realidade, a entrevista é um dos métodos mais frequentemente utilizados nas ciências sociais.
Por que tantos pesquisadores fazem uso desse instrumento? Ele é de fato capaz de trazer algum tipo de elucidação sobre a vida social que já não poderia ser apreendida por instrumentos mais objetivados?
O que diferencia a entrevista em uma pesquisa de uma entrevista jornalística? Esta aula se preocupará em analisar o estatuto do material coletado por entrevistas, introduzindo-nos não apenas a essa técnica, mas, também, às discussões que envolvem sua utilização.
Leitura Recomendada:
BARATA, Betriz Perisse. Estudo de caso: os novos direitos dentro da perspectiva da empresa de ônibus Util S/A. In Coleção Jovem Jurista. Rio de Janeiro: FGV Direito Rio, 2011. Páginas: 67-69; 79-86