Reprodução, com adaptações, da Apostila TCC 1 e 2, preparada pelos professores FERNANDO FONTAINHA, IVAR HARTMANN, ANA MARIA MACEDO CORRÊA, CAMILA ALVES E KATARINA PITASSE, da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, em 2014.1

19 - Metodologia Qualitativa: Observação e Etnografia

O trabalho de campo etnográfico é um método notadamente sensível para a representação intercultural. Neste caso, a observação dita participante exige que seus praticantes experimentem, tanto física, quanto intelectualmente, a tarefa de traduzir uma comunidade cultural, buscando compreender seus símbolos, rituais e linguagem. 

Por isso, a observação participante demanda do pesquisador um aprendizado linguístico, envolvimento direito e conversação com os nativos, ocasionando, comumente, um desarranjo, um redesenho de suas expectativas prévias sobre a alteridade estudada. 

A experiência in loco, in situ, in concreto, o envolvimento intersubjetivo e os relatos culturais intensivos tornaram-se parâmetros para a produção de conhecimento de cunho antropológico, em especial, a partir da década de 1930, com a institucionalização acadêmica da antropologia. 

Com este marco, estabeleceram-se padrões normativos para este tipo de pesquisa, como a vivên-cia por um razoável lapso temporal com os grupos a serem analisados, a observação direta que confere ênfase ao visual e a elaboração de descrições densas. 

Ao seguir estes passos, confere-se legitimidade à pesquisa. Assim, os sinais de um “ter estado lá” do investigador evidenciam o modo como o autor da etnografia constrói sua presença, em termos epistemológicos e de poder, no texto, assegurando a autoridade do seu discurso sobre o contexto cultural narrado. Por exemplo, imagine-se o leitor entrando em um presídio, com o propósito de realizar uma pesquisa, a partir do método etnográfico. Nesta ambientação, ele vivenciará o estranhamento do lugar, visto que experimentará um choque cultural, sobretudo, pela diferença da linguagem, do hábito, do signo. Portanto, a experiência etnográfica almeja compreender o nativo por meio de um olhar atento, de uma escuta sensível e de uma escrita adequada. Esse entrelaçamento do pesquisador com o desconhecido possui como fim identificar as singularidades e os sentidos locais.